Les mots(1964) - Jean-Paul Sartre - Editions Gallimard
A primeira leitura que fiz de Les Mots foi em 1990, no curso de Letras, releio-o agora, tantos anos depois e percebo que ainda me lembro de muita coisa, muitas passagens. Entretanto, ao abrir o livro, nada me vinha à cabeça, pensei que tudo tivesse se apagado. Bobagem duvidar tanto da memória, ainda que eu estivesse senil seria impossível esquecer, por exemplo, de uma das últimas frases do livro “Rien dans les mains, rien dans les poches” que Caetano Veloso usou na sua música Sem lenço, sem documento, no trecho “Nada no bolso ou nas mãos, eu quero é seguir vivendo….”.
Este livro, única narrativa autobiográfica de Jean-Paul Sartre, é dividido em duas partes: Ler e Escrever, os dois acontecimentos mais importantes da sua vida. A etapa mais relevante desta biografia é a infância do escritor. Pois é, parece que ele já nasceu escritor, em criança já agia como um escritor, se imaginava adulto e escritor, brincava de escritor …e revela tudo isso com humor, desmistificando muito da infância e também da profissão, com forte espírito crítico.
Sartre fala muito da mãe que é mostrada como uma quase irmã, o pai ele perdeu cedo, tinha menos de um ano, e foi viver com a mãe na casa de seus avós maternos, Charles et Louise Schweitzer. O Avô e sua biblioteca exerceram grande influência na vida do escritor.
A criança não sofreu com a morte do pai, muito ao contrário, foi a sua morte que o tornou livre, ‘não há bom pai e não é culpa dos pais’ mas das ‘relações paternas que são podres.’ Teve, assim, uma infância feliz vivida, basicamente, no meio dos adultos. Tudo isso deve ser, sem dúvida é, importante na formação do escritor e do homem, mas o mais interessante do livro é mesmo o leitor e o escritor em formação, a descrição da sua relação com os livros antes mesmo de saber ler, a relação com a própria biblioteca que é comparada a um templo sendo o livro a sua religião.
Uma parte do livro de certa forma engraçada, é quando os primórdios do cinema são mostrados e o autor diz: ‘era o divertimento das mulheres e das crianças.’ Não era exatamente divertimento de ‘gente séria’. Sartre e a mãe adoravam.
Visto que não havia dúvida de que Sartre seria mesmo escritor o avô o aconselha a ser, ao menos, realista, encarar as coisas de frente, sabia ele que escritores famosos tinham morrido de fome e que outros tinham se vendido? Se Sartre quisesse conservar sua independência convinha escolher uma segunda profissão, ser professor, por exemplo. A literatura não alimentava.
Outro ponto que destaco é quando, quase no final, o autor afirma que não tem especial talento para a escrita, que seus livros sentem ao ‘suor e esforço.’
Sartre nasceu em 1905, recusou o prêmio Nobel em 1964, morreu em 1980.
Frase interessante: “Dans nos sociétés en mouvement les retards donnent quelquefois de l’avance.” P. 55
Leila S. Terlinchamp
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