Província do Quebec estimula entrada de brasileiros com nível superior
SORAIA TANDEL para a FOLHA
ANDRESSA ROVANI
Emigrar para um país desenvolvido, sempre na lista das nações com os melhores índices de qualidade de vida e, principalmente, para exercer funções de trabalhador qualificado. Esses são alguns dos principais chamarizes do governo canadense para garantir a diminuição do déficit de mão-de-obra nos próximos anos. O destino de muitos dos que se interessam em aventurar-se pelo gelado país da América do Norte é quase certo: a província do Quebec, região com forte influência da cultura francesa. A fim de divulgar as oportunidades, o governo quebequense fez, neste mês, palestras em oito cidades. Em São Paulo, o evento será amanhã e na terça-feira (inscrições pelo site www.imigracao-quebec.ca). A Folha conversou com a agente do departamento de imigração do governo, Soraia Tandel, que fará as palestras. Conheça, a seguir, os principais pontos do processo migratório.
FOLHA - Por que incentivar a imigração de brasileiros ao Quebec?
SORAIA TANDEL - Por dois motivos. O Quebec é muito grande com população muito pequena, e, além disso, temos um crescimento vegetativo muito pequeno e queremos atrair pessoas para povoá-lo. Mas buscamos profissionais qualificados.
FOLHA - Quem se mudar para a província encontrará emprego?
TANDEL - Entre 2005 e 2009 serão abertos 250 mil postos de trabalho e não há mão-de-obra para preenchê-los -70 mil desses estão em Montreal. Cerca de 40 mil imigrantes chegam por ano à província do Quebec.
FOLHA - Por que apostar no perfil profissional do brasileiro?
TANDEL - O profissional brasileiro tem aceitação muito boa [nas empresas canadenses]. Foi feito um estudo entre as comunidades de imigrantes e constatou-se que o brasileiros não formam guetos, têm espírito alegre e boa adaptação. Há cerca de dois anos, o governo passou a divulgar o programa no Brasil. O resultado tem sido positivo, tem aumentado o número de brasileiros lá. Hoje, são 2.500 no Quebec.
FOLHA - E qual o perfil procurado pelo governo?
TANDEL - Jovens de até 35 anos, com diploma universitário ou formação tecnológica e disposto a aprender francês.
FOLHA - Quais são as formações acadêmicas mais requisitadas?
TANDEL - Todas, mas existem algumas mais promissoras. Economia, todas as engenharias, matemática, bioquímica e química, ciências autoriais e estatística são exemplos de áreas [em déficit]. Além disso, há um mês, a imigração abriu chamadas também para tecnólogos.
FOLHA - Existem diferenciais que podem agregar valor ao perfil do profissional?
TANDEL - Bem, quanto mais jovem, mais fácil. Se tiver inglês fluente, melhor. Se tiver experiência no exterior, conta a favor também. Ter filhos também conta ponto.
FOLHA - Falar francês é essencial?
TANDEL - Sim. Com 150 horas de aula de francês, já é possível ser admitido, o que representa cerca de nove meses de estudo.
FOLHA - Depois de aprovado, ele tem emprego garantido?
TANDEL - Ele deve levar dinheiro suficiente para três meses, em média. Acreditamos que nesse período [o imigrante] encontre algum emprego.
FOLHA - Como o imigrante é visto pela comunidade e pelas empresas?
TANDEL - É uma sociedade que não tem discriminação. Morando no Canadá, em três anos ele consegue cidadania canadense; é a mais rápida do mundo. Entre o residente permanente e o canadense há duas diferenças: o passaporte e o voto, mas são os mesmos direitos.
FOLHA - Qual é a taxa de insucesso do programa?
TANDEL - Há dificuldades de chegada. A língua, por exemplo. O imigrante não consegue se expressar no mesmo nível e, por isso, se sente menos qualificado. Além disso, ele tem de estar disposto a aceitar o que tem na área dele. Nenhum trabalhador qualificado vai lavar prato, mas talvez tenha de começar em um cargo mais baixo daquele que exercia no Brasil.
FOLHA - E do que depende encontrar um bom emprego?
TANDEL - Conta conhecer o setor antes de sair. Vale começar a procurar ainda no Brasil.
FOLHA - Quanto, em média, recebe o imigrante?
TANDEL - Não há diferença salarial. O salário mínimo é de 7,5 dólares canadenses por hora. Mas é raro encontrar quem trabalhe por este valor. O piso de engenheiro é de 60 mil dólares canadenses por ano.